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Novo Crédito Imobiliário para a Classe Média: Entre a Intenção Política e a Incerteza Prática

  • Foto do escritor: Paulo Polli
    Paulo Polli
  • 11 de out
  • 3 min de leitura
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Anunciada como uma solução para o dilema habitacional da classe média, a nova política de crédito imobiliário do governo gera mais perguntas do que respostas. No papel, a proposta parece atender a uma demanda reprimida, mas uma análise mais atenta revela fragilidades estruturais que colocam em xeque sua eficácia e levantam suspeitas sobre seu timing, soando claramente como uma medida de apelo eleitoral com pouca garantia de efeitos práticos no bolso do cidadão.


O pacote de mudanças inclui a elevação do teto de financiamento e o foco em uma faixa de renda que se sentia órfã de políticas habitacionais. Contudo, são os mecanismos por trás dessas manchetes que merecem um olhar cético.


A Incerteza "Gradual": Uma Promessa Sem Garantias Fatuais


O primeiro sinal de alerta está no pilar da implementação: ela será "gradual", com plena vigência apenas em 2027. Em um país com um histórico de instabilidade econômica e reviravoltas políticas, um cronograma tão estendido é o equivalente a uma promessa em aberto.


O termo "gradual" funciona como uma salvaguarda para o governo, mas como uma fonte de insegurança para o mercado e para o consumidor. O que garante que as condições econômicas de hoje – já desafiadoras – permitirão a execução do plano em dois ou três anos? E se uma nova crise ou uma mudança de governo alterar completamente as prioridades?

Essa transição longa e faseada, embora justificada tecnicamente para não gerar rupturas no mercado, na prática dilui a responsabilidade e o impacto imediato da medida. O benefício anunciado hoje pode nunca se materializar da forma prometida, tornando-se uma miragem para a família que planeja seu financiamento.


A Grande Ausência: Qual Será a Taxa de Juros Real?


O ponto mais crítico da proposta, e que expõe sua fragilidade prática, é a questão dos juros. O governo estabeleceu um teto de 12% ao ano, mas não apresentou um contexto de taxa que viabilize sua implementação em condições vantajosas para o consumidor.


A verdade é que a taxa final de um financiamento imobiliário não depende de um teto, mas sim do custo de captação de recursos pelos bancos, que é diretamente influenciado pela taxa Selic. Com a Selic em patamares elevados, como o atual, os bancos simplesmente não têm margem para oferecer crédito imobiliário a taxas significativamente mais baixas. O teto de 12% torna-se, então, uma referência distante da realidade do balcão do banco.


Para piorar, a medida propõe desvincular gradualmente o crédito imobiliário de sua fonte de recursos historicamente mais barata: a caderneta de poupança. Isso significa que os bancos terão que buscar financiamento no mercado, a um custo atrelado à Selic. Na prática, a política não cria crédito barato; ela apenas torce para que o cenário macroeconômico (a queda da Selic) faça o trabalho por ela.


Conclusão: Um Discurso Político com Efeito Prático Questionável


Ao analisar as peças, o que se revela é uma medida com forte apelo político, mas frágil em sua estrutura econômica. Ela se dirige a um eleitorado estratégico – a classe média – com uma promessa de fácil assimilação: o acesso à casa própria.


Contudo, a falta de garantias factuais na sua implementação "gradual" e a ausência de um mecanismo que assegure taxas de juros realmente competitivas no cenário atual transformam o anúncio em um ato de pouca substância prática. Resta a pergunta: estamos diante de uma política habitacional transformadora ou de uma manobra populista, cujo principal efeito será visto nas pesquisas de intenção de voto, e não no extrato bancário das famílias brasileiras?


Paulo Polli

Duas décadas de mercado imobiliário

CRECI PR 19555

CRECI SC 41607

PERITO AVALIADOR 45083

 
 
 

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